Esta seção do Blog da Pascom não tem atualizações periódicas. Os textos publicados visam proporcionar subsídio para debates sobre temas diversos

sábado, 9 de outubro de 2010

Veja as promessas do novo governador de São Paulo

Com a aprovação de 11.519.314 eleitores, 50,62% dos votos válidos, Geraldo Alckmin (PSDB) retornará ao governo de São Paulo em 1° de janeiro de 2011. Com a vitória tucana, a aliança PSDB-DEM completará em 2014, 20 anos a frente do governo do estado de São Paulo. Durante a campanha, Alckmin fez 114 promessas para sua gestão (2011 a 2014). O Blog da Pascom Brasilândia parabeniza o governador eleito e se compromete a verificar periodicamente se as promessas serão cumpridas. Abaixo listamos algumas delas:

- Construção de 150 mil moradias entre 2011 e 2014
- Investimento de R$ 1 bilhão na construção de creches para a criação de 200 mil vagas
- Construção de 30 Parques Tecnológicos
- Contratação de 6.000 novos policiais
- Termino das obras do Metrô das linhas quatro (sob concessão da CCR) e cinco (Santo Amaro – Chácara Klabin)
- Início à construção da Linha 6, que chegará aos bairros da Região Brasilândia
- Viabilização do Expresso Guarulhos, que ligará o aeroporto internacional ao Centro da Capital
- Construção de Monotrilho até a Cidade Tiradentes
- Construir o Expresso Guarulhos da CPTM e prolongar a Linha 12-Esmeralda, com mais duas estações até Varginha
- Construção da linha 17 ouro do Metrô, que ligará o aeroporto de Congonhas até o Morumbi.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Demandas regionais em transportes

Durante as eleições municipais de 2008, a Região Brasilândia apontou de forma veemente os problemas e gargalos na área de transportes da cidade. Hoje, dois anos depois, nota-se um aumento no caos dos transportes públicos, muito em parte pelo não atendimento das demandas apontadas à época: necessidade de mais um terminal de ônibus no distrito da Brasilândia, construção de novos corredores de ônibus, criação de novas linhas entre bairros, ampliação do número de ônibus nos terminais, expansão do crédito do bilhete único para quatro horas, passe livre para desempregados e portadores de várias patologias no transporte público, qualificar os profissionais dos transportes públicos quanto à relação inter-pessoal, e tirar do papel o projeto do metrô para Cachoeirinha, Freguesia do Ó e Lapa.

“O problema do transporte público é um grande problema para as comunidades da Região. A situação é mais complicada para quem mora em áreas mais afastadas. Algumas linhas de ônibus e lotações como do Eliza Maria, Jardim Vista Alegre, Guarani, Damasceno, Paulistano, Perus, Sol Nascente, Morro Doce, Jaraguá, Jardim Donária e outros chegam demorar mais duas horas para chegar ao terminal de metrô.nos horários de pico. Muitos sem condições de transportar passageiros. Estão velhos e falta manutenção. Isso tem obrigado muita gente a utilizar o carro particular para ir ao trabalho, aumentando assim o problema do transito”
Extraído do documento “O olhar e as propostas da Região Episcopal Brasilândia nas eleições municipais de 2008”

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

DEMANDAS REGIONAIS EM MEIO AMBIENTE

Muitas das demandas levantadas em 2008 sobre as questões de meio ambiente nos bairros da Região Brasilândia permanecem em aberto e com poucos indicativos de que serão solucionadas com políticas ambientais de sustentabilidade. Ainda se faz necessário criar mais unidades de coletas seletivas e cooperativas para reciclagem, estimular o desenvolvimento de oficinas de educação ambiental e o uso de material reciclável, ampliar as áreas de lazer ecológico, oferecer incentivos fiscais para a limpeza periódica de terrenos baldios, ampliar os programas de plantio de árvores, manter de maneira mais efetiva os parques estaduais Anhanguera e Jaraguá, e recuperar com projetos de cidadania as áreas das pedreiras desativadas.

“Os problemas ocasionados pela falta de políticas eficientes do poder público na questão ambiental colocam em risco o futuro da humanidade. Esta ausência de políticas públicas se verifica de forma concreta na cidade de São Paulo. Exemplo: Os córregos viraram esgotos a céu aberto, os rios estão poluídos e assoreados, as poucas áreas verdes estão desaparecendo, o entorno da Serra Cantareira esta sendo degradado, o lixo é jogado em lugares inadequados, (mais de 400 toneladas são desperdiçadas por semana), os entulhos e outros detritos são alocados e áreas de preservação ambiental e de mananciais, há licenças ambientais para construção de empreendimentos de luxo...”
Extraído do documento “O olhar e as propostas da Região Episcopal Brasilândia nas eleições municipais de 2008”

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Demandas regionais pela juventude

Exigir políticas públicas voltadas à juventude da periferia é uma das bandeiras históricas da Região Episcopal Brasilândia. No documento sobre as demandas regionais em 2008, foram pontuadas urgências como a maior assistência aos portadores de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), ampliação das medidas de informação e prevenção de DST, combate a dependência química por drogas lícitas ou ilícitas, a partir de um enfrentamento do tráfico de drogas, miséria, falta de utopia dos jovens, instabilidade financeira e carência de saúde, educação, moradia, esporte, lazer, saneamento básico, entre outros; Além disso, houve a constatação de que é preciso incentivar os empresários para que contratem jovens. A maior parte das demandas ainda permanece em aberto.

“A realidade da juventude na Região Episcopal preocupa e perpassa todas as dimensões políticas, mesmo assim faz questão de pontuar algumas necessidades. Garantir maior oportunidade de trabalho/emprego às adolescentes que se encontram no processo de pós-concepção com preferência de contratação. As doenças sexualmente transmissíveis, entre elas, a AIDS, podem ser reduzidas, havendo uma política de atenção e assistência a seus portadores”.
Extraído do documento “O olhar e as propostas da Região Episcopal Brasilândia nas eleições municipais de 2008”

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Demandas regionais em assistência social

Durante as eleições municipais em 2008, as lideranças da Região Brasilândia alertaram para demandas em assistência social nos bairros da Região. Houve a constatação de que é preciso implantar, de fato, um Sistema Único de Assistência Social na Região, ampliar a rede prestadora de serviços sócios assistenciais, melhorar a relação dos poderes públicos com as ONGs conveniadas, ampliar os debates e a participação popular na gestão dos recursos destinados à assistência social, em especial, nos destinados para áreas de maior vulnerabilidade social.

“As conquistas do movimento social na área da assistência social com a criação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), visando à universalização dos direitos à Seguridade Social e da proteção social pública, cujo modelo proposto de gestão é descentralizado e participativo, ainda não se tornou uma realidade na Região Episcopal Brasilândia. A política pública de assistência social desenvolvida no município nos últimos anos não foi capaz de ampliar e melhorar a qualidade dos serviços de atendimento aos usuários e nem de estabelecer uma melhor articulação com as comunidades e entidades sociais para a ampliação da rede prestadora de serviços sócios assistenciais”
Extraído do documento “O olhar e as propostas da Região Episcopal Brasilândia nas eleições municipais de 2008”

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Demandas regionais em Direitos Humanos

No documento que apresentou em 2008 aos candidatos a prefeito e aos postulantes ao legislativo municipal, as lideranças da Região Episcopal Brasilândia pontuaram algumas demandas referentes aos direitos humanos, tais como a necessidade de ser criar um programa educativo-cultural para a divulgação dos direitos e deveres dos cidadãos; organizar encontros, plenárias, seminários e debates sobre os direitos; construir casas-abrigo de proteção às vítimas das diversas formas de violência; e a promoção de encontros e plenárias com a sociedade civil sobre a questão dos jovens presidiários.

“É de fundamental importância que a sociedade tenha consciência a respeito de seus direitos, principalmente aqueles que garantem dignidade à pessoa humana, igualdade de oportunidade e liberdade, por isso, é preciso que um governo democrático e popular lute por justiça e respeito aos Direitos Humanos. As Relações de Gênero incluem o relacionamento do homem, mulher, ambos como construtores de uma nova ordem social. Geralmente é durante a juventude que essas relações mais se alicerçam”
Extraído do documento “O olhar e as propostas da Região Episcopal Brasilândia nas eleições municipais de 2008”

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Cultura: conheça as demandas regionais

No documento entregue aos candidatos a prefeitura de São Paulo em 2008, as lideranças da Região Brasilândia sugeriram alguns aprimoramentos no campo da cultura, que também podem ser viabilizados pelo executivo e legislativo estadual e federal. Entre as demandas estão o aumento da quantidade de oficinas culturais nos bairros, implantação de bibliotecas populares e culturais, com campanhas de incentivo à leitura, transporte gratuito aos locais de eventos culturais e esportivos para os jovens das periferias, promoção de encontros, congressos e seminários sobre cultura nos espaços públicos dos bairros, criação de um fórum permanente de política cultural.

“Os espaços de cultura e lazer são importantes para o desenvolvimento, a integração, o relacionamento, a aprendizagem, a abertura de novos horizontes. Amplia a visão e respeito sobre o multiculturalismo porque valoriza as raízes culturais e históricas das comunidades.”
Extraído do documento “O olhar e as propostas da Região Episcopal Brasilândia nas eleições municipais de 2008”

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Demandas regionais na área da educação

Durante as eleições municipais de 2008, as lideranças da Região Episcopal Brasilândia apresentaram aos candidatos a prefeito e a vereador propostas concretas para melhorias na área da educação, tais como ampliar a quantidade de creches diretas, aumentar o valor de repasse para as creches conveniadas, aprimorar o atendimento às crianças e adolescentes que cumprem medidas sócio-educativas, valorizar o programa de alfabetização de jovens e adultos, garantir assistência psicológicas nas escolas, reativar o papel dos Conselhos de Escola e dos Conselhos Gestores dos CÉUs e garantias de qualificação e emprego para os jovens na própria região. Muitas dessas reivindicações seguem em aberto e podem ser viabilizadas junto à prefeitura de São Paulo pelos pleiteantes ao executivo e ao legislativo estadual e federal.

“A situação da educação fundamental, está comprometendo o futuro da juventude. A precariedade quanto às instalações físicas, à superlotação das salas, a falta de tecnologias, a ausências de projetos culturais, a distância da comunidade escolar e os moradores do entorno, são os principais problemas que prejudicam o bom desempenho dos estudantes”
Extraído do documento “O olhar e as propostas da Região Episcopal Brasilândia nas eleições municipais de 2008”

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Demandas habitacionais da região noroeste de São Paulo

Durante esse período das eleições ao executivo e legislativo federal e estadual, a seção Eixo Temático do Blog da Pascom Brasilândia, resgata as demandas regionais nos bairros da Região Brasilândia, registrada em documento elaborado em 2008. Disponibilizamos também o link permanente para que você conheça as propostas e os encaminhamentos de todos os candidatos a governador de São Paulo e a presidente da república. Saiba o que propõe seu candidato e cobre os compromissos de campanha.

Demandas regionais na área da habitação/moradia

“A ausência de uma política habitacional para as famílias de baixa renda ou desempregadas tem causado muitos problemas nos últimos 10 anos. A morosidade quanto à regularização dos loteamentos e falta de vontade política tem agravado ainda mais este cenário. As medidas adotadas pela atual administração municipal, intitulada “operação das águas” que tem feito à remoção de famílias que habitavam áreas de risco ou de mananciais, como é o caso do Jardim Damasceno, Taipas, Perus e Anhanguera só mudou o problema social de endereço. Muitas destas áreas sem documentação foram loteadas por imobiliárias, associações e até mesmo pelos supostos proprietários e vendidas. Outros loteamentos se constituíram em áreas públicas abandonadas. Outros ainda estão em áreas de preservação ambiental e áreas de risco. Nestes casos a prefeitura ficou omissa. Porque não fiscalizou e não tomou providencias”
Extraído do documento “O olhar e as propostas da Região Episcopal Brasilândia nas eleições municipais de 2008”

sexta-feira, 30 de julho de 2010

BLOG DA PASCOM – ELEIÇÕES 2010

Demandas Regionais e link para acompanhamento de todos os candidatos
Durante esse período das eleições ao executivo e legislativo federal e estadual, a seção Eixo Temático do Blog da Pascom Brasilândia, resgata as demandas regionais da população dos bairros da Região Brasilândia, registrada em documento elaborado em 2008. Disponibilizamos também o link permanente para que você conheça as propostas e os encaminhamentos de todos os candidatos a governador de São Paulo e a presidente da república. Saiba o que propõe seu candidato e cobre os compromissos de campanha.

Demandas regionais na área da saúde
“A situação do atendimento a saúde é um dos grandes clamores da população. A falta de uma política de saúde que priorize a promoção da pessoa tem causado muitos sofrimentos e seqüelas nos últimos anos. A terceirização dos serviços de saúde e de equipamentos públicos tem provocado muitos problemas no sentido de não garantir atendimento de qualidade (...) A população tem o direito de ser tratada com dignidade e o poder público tem a obrigação de garantir uma política de saúde eficiente que atenda as pessoas na integralidade”
Extraído do documento “O olhar e as propostas da Região Episcopal Brasilândia nas eleições municipais de 2008”

sábado, 3 de abril de 2010

Dinheiro e Semana Santa



Fonte: http://www.adital.com.br/

por dom Demétrio Valentini, bispo de Jales (SP) e presidente da Cáritas Brasileira

Segunda-feira Santa
A paixão de Cristo e o dinheiro

O Evangelho da segunda-feira da Semana Santa traz a história do perfume precioso, derramado por Maria sobre os pés de Cristo na casa de Lázaro. Era caro, e segundo Judas, valia “trezentos denários”.

Dinheiro e política compõem o cenário da paixão de Cristo. Por trinta moedas subornaram Judas para entregar Jesus. E se valeram das veleidades políticas de Pilatos para condená-lo à cruz: “se soltas este homem não és amigo de César”.

Dinheiro e política compõem também o cenário do drama do povo. A amizade com os “césares” continua condicionando as causas do povo. E assim os recursos financeiros não são aplicados segundo as necessidades urgentes dos pobres, como a saúde, a educação, a moradia, o transporte, o emprego.

Judas, o zelador da “bolsa”, diz que o perfume poderia ser vendido, para que o dinheiro fosse dado aos pobres. Na verdade, ele queria roubar o dinheiro.

Assim fazem entre nós os demagogos: levantam a bandeira dos pobres, mas entram na política por interesses pessoais. Judas traiu Cristo, os demagogos traem o povo.

Jesus coloca critérios de valor para o uso do dinheiro. À primeira vista, o perfume derramado por Maria era um desperdício. Na verdade, era uma ação educativa: o dinheiro precisa estar sempre disponível para as grandes causas. Jesus estava prestes a empenhar sua própria vida pela causa da humanidade. O dinheiro do perfume derramado sobre seu corpo se revestia da mesma finalidade. Jesus estava dando o critério para a destinação primordial do dinheiro: “pobres sempre tereis convosco”.

O dinheiro entrou na paixão de Cristo. Ele entre no drama da vida humana. E’ necessário que ele seja assumido, com responsabilidade. Faz parte de nossos compromissos analisar a serviço de que causas está sendo colocado o nosso dinheiro.

Terça-feira Santa
Dinheiro: amor ou traição?

A traição de Judas é capítulo indispensável da paixão de Cristo. E’ o que a liturgia coloca nesta terça-feira da Semana Santa. E, de novo, o dinheiro integra o cenário desta traição.

Diz o Evangelho que o Mestre estava perturbado diante da iminência da traição. Partilha esses sentimentos com seus discípulos. Pois o contexto era de intimidade, de amizade, de confiança: uma refeição. Tanto mais destoava a traição, pois vinha de um amigo, e usava as aparências da amizade para se perpetrar.

Observa o Evangelho que Judas pôde sair tranqüilo da sala, e partir para a traição, aparentando as boas intenções do seu ofício: como encarregado do dinheiro, todos pensavam que ele fosse “comprar o que precisavam para a festa, ou dar alguma coisa para os pobres”.

Para isto serve o dinheiro: para a festa da vida, e para ajudar os pobres.

Nada mais comovente do que ver a alegria dos pobres partilhando o pouco que possuem. As festas dos pobres são bonitas. Com seus parcos recursos, multiplicam a alegria da convivência, da acolhida mútua, da descontração, da alegria de viver. Parece o milagre da multiplicação dos pães: a carência de todos se transforma em surpreendente abundância, e resulta que todos se saciam, e ainda sobre alguma coisa.

Na casa do pobre sempre há lugar para mais um. Quando chega o visitante, é bem acolhido, é convidado à mesa, e ninguém se preocupa se a comida será suficiente.

Com um pouco de dinheiro dá para multiplicar o amor. Aí o dinheiro se transforma em vida e em alegria. Ele fica abençoado. Ele atinge sua finalidade.

O dinheiro que caía na bolsa de Judas deveria servir ao amor. O drama é que o dinheiro está tão perto da traição, quando passa a ser objeto de cobiça. Aí ele perde sentido, e leva para a perdição.

Viver a Páscoa é recolocar o dinheiro a serviço da vida e do amor.

Quarta-feira Santa
Dinheiro e poder: os critérios da negociação

Em plena Semana Santa, o Evangelho insiste em mostrar a presença e a ação do dinheiro na história da paixão de Cristo.

Nesta quarta-feira Mateus nos conta que Judas foi negociar com os sumos sacerdotes. A traição ficou cotada em trinta moedas. Acertaram-se no preço, na quantia de dinheiro. Mas com isto o Justo ficou sacrificado. Fizeram acordo. Entenderam-se a respeito do valor monetário. Mas esqueceram o valor da vida, que não tem preço. E assim o Cristo foi condenado a morrer.

Diante desta história do Evangelho, podemos situar melhor o problema dos acordos financeiros.

Entre nós se discute tanto, e com razão, os termos dos acordos que regem hoje as relações financeiras no mundo globalizado. Até os pobres falam no FMI. No Brasil foi feito o plebiscito sobre a Dívida Externa, e a primeira pergunta dizia respeito, exatamente, aos “acordos com o FMI”. Mesmo sem conhecer os termos exatos destes acordos, o povo intui que eles se revestem de uma perversidade que não pode ser aceita.

E’ que os acordos não podem se limitar a reger relações financeiras. Eles precisam estar relacionados com a vida do povo. Caso contrário, correm o risco de serem injustos, e de colocarem em risco a sobrevivência dos pobres.

Sem a vinculação ética que a deve reger, a economia perde sentido, e se torna instrumento para condenar à morte a multidão dos excluídos.

O dinheiro, por pouco que seja, dá um poder de negociação. Com uma pobre bolsa na mão, Judas se transformou em negociador diante do sistema do poder estabelecido. E foi capaz de provocar uma grande injustiça.

Usar corretamente o poder de negociação que nosso dinheiro nos proporciona, é um sério dever ético, para todos, em nosso tempo. Pois está em causa a vida das pessoas, sobretudo dos indefesos.



Quinta-feira Santa
Gratuidade além do dinheiro

No clima comovente de despedida, o Evangelho narra hoje o gesto de Cristo, de lavar os pés dos apóstolos. E explica como este gesto nascia de um amor sem limites: “tendo amado os seus, amou-os até o extremo” (Jo 13,1).

De novo, o contraponto deste amor é o ódio cego, que já tinha se instalado no coração de Judas. A ganância do dinheiro tinha toldado o horizonte de Judas. O acordo com os sumos sacerdotes o condicionava, e ele se sentia na obrigação de trair o Mestre. “O diabo já tinha seduzido Judas para entregar Jesus” (Jo 13,2). O diabo se instala a partir da lógica do lucro.

E’ importante evitar de entrar nesta lógica. Pois uma vez instalada, tem a força de uma coerência, tantas vezes afirmada enfaticamente pelos economistas, que teimam em insistir na “verdade única” da inexorabilidade do processo econômico excludente que impõe seus critérios. Não se trata de negar esta coerência intrínseca. Trata-se de mudar de princípio. Trata-se de substituir o “diabo” do lucro pela gratuidade do amor, feito serviço aos irmãos. Como fez Cristo na quinta-feira, em contraste total com o que foi fazer Judas, no mesmo dia e na mesma hora.

A lógica do lucro produz insensibilidade humana, e fecha dentro de “direitos” que se respaldam em leis inspiradas para sua defesa. A força do amor leva a ultrapassar os “deveres”, e chega a gestos surpreendentes, rompendo os horizontes das formalidades, e estabelecendo uma nova atitude de solidariedade e de comunhão. Os discípulos nunca mais irão esquecer o Mestre que lavou seus pés. E descobrem nele um motivo para a entrega de suas vidas, além das medidas humanas, e muito além da lógica do lucro.

Só o amor, transformado em serviço gratuito, rompe os limites do lucro.


Sexta-feira Santa
Condenação de Cristo - julgamento do sistema

Hoje o dia nos convida a olhar, com respeito, para o Cristo condenado na cruz. O fato permanece como a interpelação mais profunda da história humana: como foi possível uma pessoa que “passou fazendo o bem a todos”, ser condenada na cruz?

As lições permanecem inesgotáveis. No seu conjunto, atestam com evidência a diferença de critérios a presidir um projeto de vida e de sociedade. Um projeto que se guia pelos contra valores do ter, do poder e do prazer, não tolera um projeto que se guia pela doação, pelo serviço e pelo amor. E se sente na obrigação de eliminar os que o contestam com o testemunho da própria vida. Sua urgência de condenar é confissão da própria fraqueza, incapaz de encontrar justificativas humanas para se sustentar.

Foi assim que o próprio Cristo entendeu o significado de sua iminente condenação: ela iria significar o julgamento dos que o estavam condenando.

Cristo bateu de frente com o sistema de dominação religiosa, política re econômica, exercida sobre o povo pelos detentores do poder. Mas estes, para executar seus planos, acionaram a ambição financeira. Ofereceram dinheiro para Judas entregar o Mestre, para ser submetido a julgamento, e ser condenado a morrer.

Com o Cristo crucificado se identificam milhões de inocentes, condenados a morrer pelo sistema que os exclui da vida. São vítimas da ambição do poder, da ânsia desordenada do ter, e do desejo desenfreado do prazer, dos que hoje ainda detêm em suas mãos o destino das pessoas.

Mas o condenado na cruz nos convida a fazermos a opção certa, e assumir o seu projeto.

Sábado santo
Empréstimo provisório


Depois da sexta-feira intensa e movimentada, carregada de tensões e sofrimentos, veio o sábado do repouso.

Como faz bem um dia de repouso, sem agenda, sem acontecimentos, sem agitação, sem notícias. Para ser vivido no silêncio, na paz, no sono, na espera.

Um dia que parece vazio. Mas que na verdade se enche de mistério e de esperança.

As atenções se voltavam para o túmulo, onde ainda estava o corpo do Cristo. Um túmulo emprestado. Um túmulo de família rica. Após a morte de Cristo, José de Arimatéia e Nicodemos saíram do anonimato, e ofereceram seus préstimos às mulheres, para darem ao falecido uma sepultura digna. Compraram caros perfumes, conseguiram emprestado um túmulo, e nele depositaram o corpo do Senhor.

Foi tarde demais a intervenção deles? Não podiam ao menos ter pago um advogado, para defender o acusado, num processo tão cheio de irregularidades jurídicas?

Em todo o caso, agora agiam sem constrangimentos, respaldados pela dignidade da morte, que tem a força de se sobrepor às injustiças contra a vida. A morte dos pobres se constitui em força irresistível em favor de suas vidas. Como a morte de Cristo, plantada no túmulo, de onde brotaria com força nova e irresistível a vida ressuscitada.

Nunca é tarde para colocar nossos recursos a serviço da vida. O túmulo emprestado lembra os empréstimos dos ricos para os pobres. Aquele foi um empréstimo provisório, de apenas três dias, e que compôs o contexto de onde a vida eclodiu, exuberante, para sempre.

Um empréstimo provisório, que serviu para uma vida definitiva. Ao contrário de muitos empréstimos de hoje, que mais parecem túmulos definitivos, a sepultar para sempre as esperanças dos pobres.

Esta sábado ensina aos nicodemos de hoje que o melhor fruto dos recursos financeiros não sãos os juros acumulados, mas a alegria de ver ressuscitada a vida dos pobres.

Domingo de Páscoa
Túmulo vazio – corações cheios


O domingo da ressurreição começou na madrugada, com Madalena e as outras mulheres. E terminou noite a dentro, com os discípulos de Emaús e os apóstolos reunidos. Um longo aprendizado, para passar da decepção do túmulo vazio, para a plenitude da alegria com a presença do Senhor Ressuscitado.

Todos os pequenos episódios deste dia ensinam a passar das decepções para a esperança, da morte para a vida, do sofrimento para a alegria.

O túmulo vazio não era fruto de roubo praticado. Era ausência de morte, era sinal de vida.

O vazio de Deus em nossa vida é sinal de sua presença, é espaço para nossa afirmação, é convite para mergulharmos em seu mistério de amor.

As interrogações dos discípulos não eram prova do contra senso, eram pistas para a descoberta da verdade.

As decepções dos apóstolos não eram confirmação do engano, mas purificação das mentes, para se abrirem aos desígnios divinos, que superam as falsas expectativas humanas.

Para experimentar a presença do Senhor não precisavam de muita coisa. “Tendes aí alguma coisa para comer?”(Lc 24,41). Bastam algumas coisas! Não precisamos abarrotar nossas despensas, não precisamos de grandes somas em nossas contas bancárias, não precisamos de grandes investimentos nas bolsas. A frugalidade está mais próxima da alegria e da plenitude. Corações abarrotados de desejos não deixam entrar a luz da vida. O Ressuscitado atravessou paredes e portas fechadas, mas não passa pela barreira da ganância e por cima do acúmulo.

Assim, a paixão tinha preparado os corações para a alegria do reencontro, para a paz que vem do Senhor, para o perdão gratuito e total, para o Espírito que era concedido aos discípulos como primícias da vida nova e definitiva que já brilhava no corpo ressuscitado do Senhor.

Estavam removidos os obstáculos da morte, estava aberto o caminho da vida verdadeira. Por ele somos convidados a andar, à luz da fé no Ressuscitado!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Auxilio reclusão x Salário Mínimo num país de grandes contradições

por Gislene Ferreira dos Santos, assistente social formada na Universidade São Francisco, campus São Paulo


A convite da equipe da Pascom Brasilândia, fui convidada a refletir, sob a luz da assistência social, sobre algo que popularmente está sendo chamado de "Programa Bolsa-Marginal", cujo nome correto é auxílio-reclusão.

Circulou em listas de e-mail, nas últimas semanas, a seguinte mensagem:


Programa Bolsa-Marginal?
Você sabia que todo presidiário com filhos tem uma bolsa parasustentar a família, dado pelo INSS, pois o coitadinho não pode trabalharpara sustentar os filhos, pois está preso?
Chama-se "Auxílio-reclusão" e, pasmem... quem foi preso a partirde 01/12/2009, recebe R$ 752,12 (quanto está o salário mínimo mesmo,para aqueles que trabalham honestamente????)
O valor do auxílio-reclusão corresponde ao equivalente a 100% dosalário-de-benefício (existe uma tabela).
O salário-de-benefício corresponde à média dos 80% do maior salários-de-contribuição do período contributivo, a contar de julho de1994.
Para o segurado especial (trabalhador rural), o valor doauxílio-reclusão será de um salário-mínimo, se o mesmo não contribuiufacultativamente.
Pergunta que não quer calar:
1) Por acaso os filhos do sujeito que foi morto pelo coitadinho queestá preso recebem uma bolsa para seu sustento?
2) Já viu algum defensor dos Direitos Humanos defendendo esta bolsapara os filhos das vítimas?
É por isso que a criminalidade não diminui ...
Mate e assalte......
e ganhe o Bolsa - Bandido...!



Cabem algumas análises e esclarecimentos sobre o auxílio-reclusão:

De acordo com o site do INSS, o beneficio bolsa reclusão não é tão simples como esta colocado, pois as pessoas que estão reclusas precisam estar trabalhando para os familiares acessarem o benefício. Portanto, o beneficio auxilio-reclusão é previdenciário e constitucional, e tem por critério que o preso tenha contribuído a Previdência Social; ou incluam-se entre os chamados segurados especiais, nesse caso, independentemente de contribuição, para assegurar que sua família seja beneficiária enquanto este se encontra recolhido à prisão.

Para isto foram estabelecidos requisitos para a concessão do auxilio-reclusão como estar preso - restrição à liberdade imposta pelo Estado; ter baixa renda, ou seja, a renda do preso não pode ser superior a R$ 752,12; ter contribuído com a previdência social, ou ser segurado especial. Estando nesses critérios, os dependentes do segurado preso podem requerer o beneficio auxilio-reclusão.

Atualmente, cerca de 30.380 pessoas tem sido beneficiárias do auxilio-reclusão em contraponto a uma população carcerária de aproximadamente 470 mil presos. Essas condições reais para o acesso desmistificam que este processo seja para todo presidiário e com toda a facilidade descrita no e-mail anteriormente citado.

Esse beneficio financeiro, concedido pelo governo federal, inquieta os brasileiros que passaram a partir de janeiro de 2010 a receber o salário mínimo de R$ 510,00 reais. Há esse contraste com relação ao auxílio-reclusão que atualmente é de R$ 798,30. De acordo com pesquisa realizada com o Departamento de pesquisa Dieese, atualmente o trabalhador deveria estar ganhando por volta de R$ 1.987,26, aproximadamente 3,9 vezes mais que o atual salário mínimo de R$510,00.

Todos os cidadãos têm direitos garantidos na Constituição Federal de 1988 e estes devem ser garantidos imprescindivelmente, mas me inquieta também tamanha contradição: o trabalhador que honestamente acorda todos os dias, enfrenta os transportes para chegar ao trabalho e retornar no final do dia, ganha uma miséria.

Segundo Paulo Freire "os sonhos são projetos pelo qual se luta" e em uma sociedade transparecem os interesses pelos quais defendem, preconceitos, que demonstram marcas da sua realidade, que devemos acreditar na possibilidade de mudança.


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Texto Base da Conferência “Novos Cenários Políticos e Sociais e Processos de Comunicação”

extraído em http://muticom.org

por Pedro A. Ribeiro de Oliveira, professor no PPGCR da PUC-Minas, membro do ISER/Assessoria

Cenários: o teatro como metáfora da história.
Vou falar dos “cenários” não como fazem os analistas políticos (que usam a palavra no seu significado original francês de “roteiro”, como de um filme) mas no significado bem nosso de composição do espaço cênico para uma peça teatral. Se cabe a metáfora do teatro para a história, devemos investigar como foi construído o palco montado para o desenrolar da história de Nossa América e o lugar de cada ator em cena. O tema, porém, é menos a história política e social da América Latina e Caribe do que seus novos cenários. É para saber o que há de novo no palco, que faremos o contraste com o que já estava ali antes de entrarem em cena os personagens que hoje movimentam o drama da história.

Ato I: Abi-Ayala entra no sistema mundial
Remontemos ao século 16, quando se abrem as cortinas para a encenação de uma peça dramática: a conquista européia de Abi-Ayala, com seus dois extensos continentes unidos por uma faixa de terra e pelas ilhas caribenhas. Em cena, estão muitos povos, oriundos de duas correntes migratórias vindas da Ásia pelo estreito de Bering: uma há 14 mil anos, outra 3 mil anos depois. Há quem estime em cem mil anos a chegada do homo sapiens à América, mas para o nosso drama isso importa pouco. Importante é ter em mente que eles formavam culturas as mais diversas, desde sociedades complexas que integravam diferentes povos num só império, até as pequenas tribos de caçadores-coletores. De repente, esses povos veem surgir de grandes monstros marinhos homens muito diferentes deles trazendo uma arma mortal: a pólvora.
Embora fossem numericamente uma pequenina minoria, os bandos desembarcados dos navios europeus souberam tirar vantagem das diferenças e desavenças entre aqueles povos. Convencidos de serem portadores de uma civilização superior e contando com as armas de fogo como argumento definitivo de sua superioridade, em pouco tempo eles impuseram seu domínio. E os povos originários foram derrotados. Militarmente, culturalmente, politicamente, socialmente, religiosamente… No lugar das antigas sociedades tribais – desde as pequenas, até as mais complexas – foi construído um novo sistema destinado a racionalizar a exploração econômica desses povos em favor das metrópoles européias.
A chave do funcionamento desse sistema é magnificamente descrita por I. Wallerstein . Diferentemente dos impérios da antiguidade clássica, que impunham pesados tributos aos povos conquistados para se apropriarem de suas riquezas, o sistema mundial moderno transfere maior quantidade de riqueza por meio do comércio desigual do que pela política de pesada tributação. Ao vender caro seus produtos e comprar baratos os produtos coloniais, a metrópole transfere riqueza da periferia para o centro de modo aceitável, pois há uma troca aparentemente equilibrada entre as partes contratantes. É bem verdade que essa troca não é inteiramente livre, pois o mercantilismo em vigor naquele tempo dava ao Estado o monopólio comercial, o que terminava por favorecer a burguesia comercial da metrópole e sua parceira menor nas colônias.
Para funcionar a contento, o sistema requer a colaboração de duas classes radicadas nas colônias: a dos proprietários de terra – com o controle da produção – e a dos comerciantes – que escoam esses produtos rumo à metrópole. Formadas por pessoas vindas da Europa – brancas, católicas, instruídas – foram elas, e não os funcionários das cortes, que dominaram com poder quase absoluto as sociedades coloniais. Nesse cenário de três séculos, é clamorosa a desigualdade entre os personagens. Os proprietários e comerciantes, embora numericamente minoritários, dominam a cena, enquanto os remanescentes das sociedades tribais perdem sua autonomia e ficam na periferia do palco, para onde são trazidos também os africanos escravizados. Por vezes, esses personagens tentam ocupar os lugares centrais por meio de revoltas, rebeliões e formação de quilombos, mas esses gestos heróicos são esmagados sem piedade pelos donos do poder, se necessário com o apoio militar das metrópoles. Derrotada e humilhada, essa massa que perdeu suas raízes indígenas e africanas retorna para o único lugar onde cabem os perdedores: a atividade servil. É impressionante sua redução ao silêncio no teatro da história, como se toda essa massa humana não contasse. Só ouvidos apurados conseguiam ouvir sua voz, tão abafada que não parecia ser mais do que um murmúrio. Nem mesmo a Igreja católica, instituição encarregada de zelar pela moral e os costumes da sociedade, considerava inaceitável essa realidade opressiva.
Esse cenário colonial só foi mudado ao terminar o “longo século” da hegemonia holandesa, na década de 1780, quando a primeira grande crise sistêmica do capitalismo provocou a onda de revoluções que derrubou o “antigo regime” na Europa continental, levou à independência das colônias na América e transferiu a hegemonia mundial para a Inglaterra . Ao perder a sustentação política dada pela monarquia absolutista, o mercantilismo desmorona e abre a possibilidade de novas formas de comércio internacional, descartando o incômodo e burocrático monopólio estatal.
A hegemonia sistêmica da Inglaterra no século 19 faz muita coisa mudar em toda a Nossa América. A queda das monarquias absolutas na Europa enfraquece a dominação política sobre as colônias e permite o surgimento de movimentos em favor da independência. Esses movimentos aglutinam setores de diferentes classes sociais que clamam por uma sociedade na qual todos sejam sujeitos de direitos, conforme o preceito liberal triunfante na Europa e nos Estados Unidos. A independência traz com ela, mais cedo ou mais tarde, o fim do regime escravista, a soberania nacional, e algumas medidas favoráveis ao conjunto da população. Mas o sistema econômico mundial, fundado no mercado, não desabou ao esgotar-se o mercantilismo. Ao contrário, aperfeiçoou-se pela contribuição inglesa: a periferia continuará a transferir riqueza para o centro, mas de agora em diante de maneira mais sofisticada, por meio do livre-comércio e o financiamento externo da produção – com o seu consequente endividamento externo.
A elite modernizante que assume a liderança do processo de independência com um projeto de transformação social, não demora a ser barrada pelos grupos aliados ao comércio mundial e aos credores externos. Em alguns países, como o Brasil, essa barreira foi mais forte e tornou muito difícil qualquer mudança estrutural. Noutros, como o Chile, a Argentina e o Paraguai, o século 19 representou um grande avanço social e econômico. Mas mesmo onde houve esse avanço, ainda era enorme a distância entre as elites e as massas formadas pelos indígenas, afrodescendentes, migrantes pobres e todo tipo de mestiços também explorados pelo sistema de mercado regido pela lógica do lucro. Continuam a desempenhar o papel de coadjuvantes, ocupando a periferia o palco, enquanto a elite branca, rica e instruída, gerava setores modernos, que se revezavam com os antigos no papel de protagonistas. Bolívar é talvez o melhor exemplo dessa mentalidade liberal de origem européia enraizada na América: nacionalista, modernizador, mas incapaz de perceber a importância dos povos e culturas indígenas e afrodescendentes na construção das nacionalidades em Nossa América.

Ato II: O grito dos esquecidos.

A crise sistêmica da década de 1880, que se desdobrará na crise dos anos 1930 desarruma novamente o cenário ao dar início ao “longo século” da hegemonia dos EUA no sistema mundial. Nesse novo cenário, a dominação neocolonial torna-se mais próxima do que antes, pois os EUA veem Nossa América como seu “quintal”. Em muitos países, porém, ocorreram movimentos sociais em favor de mudanças estruturais na economia, na política, na cultura e na organização da sociedade. Líderes nacionais como Zapata (México), Marti (Cuba) e Sandino (Nicarágua), pretendiam refundar suas nações sobre novas bases e novos valores, e promoveram verdadeiras revoluções em seus países. Apesar de suas inegáveis contribuições para melhorar a situação das classes e grupos étnicos oprimidos, foram implacavelmente esmagados pelas forças militares e políticas conservadoras, por vezes em franca aliança com os EUA. Outros movimentos em favor de mudanças foram conduzidos por representantes da própria elite atentos às classes populares, como Vargas (Brasil), Cárdenas (México) e Perón (Argentina), que buscaram modernizar nossos países sem contudo mudar suas estruturas profundas.
Ao terminar a II guerra mundial (1945), consolida-se a transferência do pólo do sistema capitalista para os EUA e inicia-se a guerra fria contra a antiga Rússia, então governada pelo Partido Comunista que procurava estender sua influência ao mundo inteiro. Neste novo cenário, a doutrina de Segurança Nacional difundida pela Escola das Américas formava militares para combater tudo que contrariasse os interesses dos EUA em nome do combate ao comunismo – o grande inimigo do mundo livre. A repressão aos movimentos libertários não conheceu limites éticos, nem respeitou os Direitos Humanos, quando eles podiam de algum modo vir a abalar as estruturas de dominação favoráveis à hegemonia estadunidense. Essa estratégia revelou-se tão eficaz que, com exceção da revolução cubana de 1958 – que até hoje faz de Cuba uma nação ímpar em Nossa América – nenhum outro movimento social com objetivos de reformas estruturais teve êxito duradouro: as experiências revolucionárias da América Central e Caribe, apesar de todo o vigor da revolução sandinista, não conseguiram sobreviver às diferentes medidas de repressão ditadas pelos EUA.
Em 1992, ao se completarem 500 anos da chegada dos conquistadores europeus ao Caribe, um observador isento teria toda razão para afirmar que nada havia mudado na estrutura do cenário de Nossa América. Ela havia se modernizado, é verdade, havia crescido em população, havia feito a experiência de governos inovadores, havia visto muitas revoltas e movimentos sociais, mas continuava na mesma posição estrutural face ao sistema mundial de mercado: na periferia, contando apenas como exportadora de commodities, importadora de serviços e, principalmente, pagadora de uma dívida financeira contraída por governantes que nunca se importaram com a dívida social do Estado com seu Povo.
Aqui devemos dar uma parada na narração do drama teatral e examinar mais atentamente o seu cenário. Diferentemente do que via aquele observador, já em 1992 começavam a despontar mudanças fundamentais no cenário. Para percebê-las, contudo, é necessário perscrutá-lo com muito cuidado e atenção aos detalhes. (Na verdade, só agora essas mudanças são nitidamente perceptíveis. Há dezessete anos atrás, só artistas e profetas percebiam algo realmente novo no cenário). Nosso desafio, agora, é vasculhar com atenção o cenário que se apresentava em 1992, procurando ali o que havia de novo. Ao fazê-lo, perceberemos que a comunicação é talvez a maior responsável por essa novidade.

Intervalo: uma análise do cenário de 1992

Novo, de verdade, neste cenário é um personagem coletivo: os Movimentos Sociais. Fenômeno típico da segunda metade do século 20, os Movimentos Sociais contemporâneos são estruturalmente diferentes dos movimentos de protesto e das revoltas de outros tempos, porque não se limitam a defender os direitos de um grupo atingido pelo sistema opressor, mas, ao defenderem seus direitos, colocam em questão o próprio sistema e propõem alternativas a ele. Nessa abertura de visão, do particular ao geral e do específico ao sistêmico, reside sua radical novidade. Isso não significa, porém, que eles tenham surgido do nada: cogumelo só brota depois da chuva porque os esporos já se encontravam no solo à espera da água chegar.
Se examinarmos com atenção a composição da massa humana resultante da destruição das antigas estruturas tribais dos povos indígenas e africanos, que ocupou a periferia do palco enquanto a elite branca exercia sozinha o papel de protagonista do drama, veremos que não era uma massa inerte. Fora calada, é verdade, mas não inteiramente silenciada. Sua voz estava reduzida a um murmúrio quase inaudível, mas ali há comunicação, sim! Fazendo uso de linguagens que evocam mais do que descrevem, como a música (mais o ritmo do que a escala tonal), o mito, os ritos sagrados, as estórias e “causos”, ela elabora sua consciência do real: quem sou eu e quem são meus opressores, o que é o mundo e em quê ele deve ser mudado. Essa identidade se comunica de pessoa a pessoa, e assim atravessa longitudinalmente toda essa massa humana, mas o mais importante é que ela se comunica também verticalmente, de geração em geração. Ora, quando um saber passa de uma geração para outra e esta o assimila, ele se torna cultura. Aqui reside a chave do enigma dos Movimentos Sociais contemporâneos: eles são o fruto maduro de uma cultura popular de raízes ancestrais que o sistema dominante não conseguiu destruir.
Bem que o sistema cultural montado pela elite branca, católica, proprietária e instruída, tentou destruir a cultura popular. Sua estratégia de combate não foi de chamá-la a um confronto teórico, mas sim a desqualificação: inculcar a idéia de que a cultura popular é um não-saber e portanto não existe enquanto cultura. É o exemplo típico das expressões religiosas populares, desqualificadas pela categoria “religiosidade” que até hoje lhes é aplicada. Gente analfabeta, lavradora, pobre, afrodescendente ou índio, só pode ter “religiosidade” e não “religião” com a qual se dialoga… Se produz arte, é “folclore”. Se narra seu passado, são “lendas”. Seus conhecimentos são “crendices” ou “superstições”.
Em outras palavras, a elite – arrogante por deter o saber que lhe vinha da Europa, desde os grandes mestres gregos até a filosofia, as ciências e a tecnologia contemporâneas – sempre tratou com desprezo a cultura popular. Mas nem por isso ela desapareceu. Ela foi sufocada, abafada, desprezada e – pior – substituída pela produção cultural de consumo fácil difundida pelos meios de comunicação de massa, mas sobreviveu em alguns nichos onde os oprimidos iam se nutrir culturalmente. Terreiros, capelinhas rurais, rodas de capoeira, escolas de samba, grupos de pajelança e tantos outros espaços marginais à sociedade “bem constituída” tornaram-se centros aglutinadores da sabedoria popular. Curandeiros, rezadoras, pajés, pais e mães de santo, conselheiros e todo tipo de artistas encontravam nesses espaços refúgio para sua cultura de resistência. Até mesmo os e as cientistas sociais que mais tarde vieram estudá-los terminavam por ajudar sua sobrevivência, pois mesmo quando os desqualificavam, recuperavam e difundiam sua memória.
É dessa cultura popular que vão se alimentar os Movimentos Sociais que vieram a ocupar um espaço importante no cenário da segunda metade dos século 20. Seu nascimento teve a ajuda de muitas parteiras. A “educação de base”, a pedagogia do oprimido, os Centros de Cultura Popular, as Comunidades Eclesiais de Base com sua teologia libertária, foram, sem dúvida, parteiras desses Movimentos Sociais. No campo (das “Ligas Camponesas” ao MST e a Via Campesina) e na cidade (movimentos sindicais, de moradores), esses Movimentos congregam grupos socialmente marginalizados mas não se limitam a defender seus direitos, antes assumem causas mais amplas, nas quais os direitos específicos se articulam com os grandes Direitos Humanos e, mais recentemente, aos Direitos da Terra.
Quero afirmar que esses Movimentos Sociais nasceram da Comunicação em mutirão. Quero dizer com isso que os elementos constitutivos da sua consciência identitária foram elaborados e transmitidos num processo comunicativo de caráter anônimo e coletivo, sendo enriquecidos de geração em geração, à margem dos meios de produção e de divulgação cultural oficiais, como púlpitos, escolas, jornais, rádios e TV, academias de letras e de ciências e outros tantos a serviço do sistema cultural dominante. Por meio dos mutirões de comunicação populares os Movimentos Sociais constroem, pouco a pouco, sua consciência de quem são, o que é o mundo, quem se opõe a eles, e assim produzem suas utopias e projetos de transformação do seu mundo.
Voltemos, agora, ao cenário de 1992. A elite está tranquila: desde a queda do muro de Berlim, sua hegemonia parece inquestionável. Alguém afirmava que a Humanidade havia cumprido seu destino e chegado ao “fim da história”: o sistema capitalista representaria o que de melhor ela produziu… Os movimentos surgidos nos meados do século 20 e que de uma forma ou de outra acreditavam na utopia socialista, haviam sido esmagados pela repressão militar e agora estavam inertes, desmoralizados pelo desmoronamento do “socialismo real”. Os militares, por sua vez, já tinham saído de cena e dado lugar aos governos neoliberais. Mas algo novo estava sendo preparado para o ato seguinte.


Ato III: “outro mundo é possível”

Estamos apenas no início deste ato. O cenário é muito diferente daquele que encerrou o II ato, em 1992. A crise sistêmica de 2008 tirou de cena os personagens que aplicavam as receitas neoliberais, fez mudar a fala de outros personagens para que continuassem a argumentar em favor da excelência do capitalismo, trouxe para o cenário alguns personagens sinistros que querem empregar a violência para manter os privilégios que o sistema lhes dá, e – o mais importante – trouxe para o centro do palco os Movimentos Sociais que proclamam que “outro mundo é possível”. É para esta novidade do cenário que se descortina na primeira década do século 21 que vamos focar a luz.
Broto novo de uma antiga raiz, quase imperceptível no cenário de 1992, os Movimentos Sociais tornaram-se hoje personagem central no desenrolar do drama histórico de Nossa América e do Planeta. Apesar – ou por causa? – disso, sua fala continua sendo abafada por outras falas ou distorcida pelos comunicadores da cultura dominante, os quais não admitem uma alternativa ao “seu” pequeno mundo. Procuremos então conhecer melhor esse personagem e seu papel no drama da história.
O traço distintivo desse novo personagem é o de confiar mais na força resultante da mobilização das vontades do que na força impositiva do Estado. Por este motivo, eles desconfiam dos Partidos políticos que visam conquistar o poder do Estado. Neste contexto, vale a pena analisar a experiência da sua relação com o Partido dos Trabalhadores.
Nos Estados de democracia representativa, como o brasileiro, cabe aos Partidos políticos a mediação entre a Sociedade civil e o Estado. Essa mediação é necessária porque a lógica do Estado não é a lógica da Sociedade. O agir do Estado tem caráter obrigatório (impõe impostos, ordena gastos e atua por ofício mediante servidores públicos), enquanto o agir da Sociedade tem caráter voluntário (só tem o poder de motivar e mobilizar as pessoas). É por meio dos partidos que a sociedade escolhe quem, em nome dela, tomará as decisões no âmbito dos Poderes Legislativo e Executivo. Foi justamente por não reconhecer os partidos oriundos do regime militar como canais adequados para sua representação política, que os Movimentos Sociais participaram ativamente na fundação do PT. Diferentemente de outros partidos de esquerda, cuja tradição leninista tornava os Movimentos e organizações sociais uma “correia de transmissão” do partido, o PT nasceu da relação dialética entre os dois pólos. Ambos têm a mesma inspiração e utopia, mas atuam em campos diferentes: os movimentos sociais lutam na sociedade civil, enquanto o Partido busca exercer o poder de Estado na esfera política. Os Movimentos Sociais fazem mobilização popular, o Partido leva a questão para o âmbito parlamentar ou Executivo. Esta mediação foi crucial para o êxito da Constituição cidadã de 1988: os movimentos mobilizavam a sociedade em defesa de seus direitos, enquanto os partidos do quadro democrático-popular (embora em minoria no Congresso) os inscreviam na Carta Magna.
Chegando à Presidência da República, o PT trouxe consigo o projeto político oriundo dos Movimentos Sociais, mas, ao assumir a lógica do Estado, tornou-se partido do governo. Assim, os Movimentos sociais perderam o seu canal de representação perante o Estado. Continuam sendo uma força de pressão da sociedade, mas sua força não é respaldada pela força política, por falta de um Partido que o represente na esfera do Estado. Por isso, os Movimentos Sociais se descolam mais e mais dos Partidos políticos, como é o caso exemplar dos Movimentos indígenas, notadamente no México, Bolívia e Equador.
Consequência necessária dessa opção preferencial pela mobilização das vontades como forma de ação transformadora da sociedade, é que os Movimentos Sociais buscam mais a formação das consciências do que as conquistas políticas. Importa mais o processo a longo prazo (afinal, são cinco séculos de dominação!) do que a conquista de um poder e suas benesses efêmeras.
Por isso, esse novo personagem deixa desconcertados os analistas políticos, cujas categorias teóricas têm muita dificuldade para dar conta da sua realidade. Movimentos indígenas, de moradores, de lavradores sem-terra, de famílias sem-teto, comunidades eclesiais de base, pastorais sociais e tantas outras organizações sociais de repente entram no cenário com uma fala que não constava do roteiro previsto e incomoda os “donos do poder”. Mas é para este personagem que convém prestar atenção, porque aí reside a novidade. E o que diz ele?
A grande novidade é que os Movimentos sociais atuais já não se contentam mais em serem incluídos no sistema, pois aprenderam pela experiência da história que no sistema de mercado não cabemos todos. A atual crise financeira / ecológica / energética / de governança / ética marca uma “mudança de época” e exige propostas muito novas para a época que agora se abre. É o que surge no palco, com grande brilho, no ano de 2001: o Fórum Social Mundial, anunciando que “um outro mundo é possível”.
Os Movimentos sociais propõem então a construir um outro “mundo”, ou seja, outro sistema de relações humanas, que não se limita à sociedade humana mas inclua toda comunidade de vida do nosso Planeta. Não se trata, portanto, nem de inverter as posições dentro do atual sistema mundial de mercado, nem de consertá-lo (pois a natureza produtivista-consumista do sistema de mercado destrói o Planeta) mas de substituí-lo por outro sistema de convivência humana no Planeta. Um sistema solidário, ao invés do atual sistema competitivo. Um sistema que aure sua força nas raízes profundas da humanidade, mas não é volta ao passado (como se pudéssemos todos viver em aldeias rurais e pequenas comunidades urbanas). Enfim, os Movimentos sociais propõem um projeto que transcende as fronteiras nacionais e que se quer planetário. Em outras palavras, não pretende voltar a encenar uma antiga peça, cujo ato final se dá no século 16, mas inspirar-se na sabedoria dos antigos para elaborar um projeto de inserção harmoniosa da espécie humana – agora contando quase sete bilhões de pessoas – na grande comunidade de vida.
Muitos pequenos passos já estão sendo dados para a concretização desse projeto, como, por exemplo, a economia solidária, a democracia participativa, a valorização das diferenças culturais. São passos dados em âmbito local, que ainda não ganharam dimensão global, mas neles podem ser percebidos novos cenários não somente para a América Latina e Caribe, como para todo o Planeta.
Será isso uma utopia? Com certeza, sim, mas é uma utopia que merece muito mais credibilidade do que a utopia do mercado, da tecnologia onipotente, do progresso sem fim, enfim, a utopia incapaz de satisfazer o anseio humano por um mundo em paz. Sem medo da utopia, sem medo de ser feliz!
Para concluir, quero dizer que aceitei o convite para participar desse Mutirão da Comunicação porque vejo seu enorme potencial de contribuição para um “outro mundo possível”. Porque acredito na força histórica dos povos da periferia e na capacidade transformadora dos Movimentos sociais, quero participar desse grande mutirão onde aprendamos, uns com os outros e outras, a ouvir e amplificar a voz de quem foi silenciado mas não deixou de murmurar, de geração em geração, uma mensagem de esperança para quem vier depois de nós.