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sexta-feira, 25 de março de 2011

Fraternidade e vida no planeta (I)

Por Dom Milton Kenan Junior, bispo auxiliar na Região Brasilândia

A cada ano, a Igreja no Brasil, ao celebrar o tempo da Quaresma, que a conduz à celebração da Páscoa da Ressurreição do Senhor, realiza a Campanha da Fraternidade, enfocando um aspecto da realidade que está a exigir conversão e uma atenção mais concreta dos cristãos.

Neste ano, a Campanha da Fraternidade trata do tema “Fraternidade e a Vida no Planeta”, tendo como lema: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22).

Já pelo tema se vê que o que merece uma maior atenção de nossa parte é a Vida, nas suas mais múltiplas formas no nosso planeta. Poderíamos dizer que a Vida está ameaçada, corre o risco de num tempo bem mais curto que imaginamos ficar seriamente comprometida, ou talvez desaparecer completamente.

O texto-base da Campanha da Fraternidade chama a nossa atenção para a elevação dos valores médios da temperatura na superfície do planeta, hoje em torno de 15°C, quando há 100 anos era 14,5°C, o que pode provocar alterações de várias ordens; diz também que a partir de 1750, a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera aumentou 40%, enquanto o metano (CH4) aumentou 150%. Esse é um dos fatores responsável pelo “efeito estufa”, grande vilão das mudanças climáticas, ou seja, a temperatura tende a aumentar cada vez mais (cf. Texto-base nn. 10. 15).

É triste constatar que a temperatura da superfície deve aumentar em cerca de 2,4°C até 2050, mesmo se a humanidade mudar seu padrão de produção e consumo imediatamente; mas poderá ser pior (atingindo o índice de 4°C) se a humanidade não mudar seus hábitos e não se preocupar com o planeta que vivemos (cf. Texto-base n.24).

A partir desses e de outros dados, que o texto-base CF 2011 nos apresenta, compreendemos que diante da problemática ambiental é necessário um pensar global, ou seja, compreender que a preservação da vida no planeta exige compromissos e posturas reais das nações, entre elas, a preocupação em diminuir a emissão dos gases responsáveis pelo “efeito estufa”; através do uso de energias renováveis (aquelas que são geralmente consumidas no próprio local em que ocorre a geração, e não emitem gases de feito estufa) e, o combate do desmatamento e das queimadas, que no caso do Brasil, são responsáveis por 50% das emissões de gases de efeito estufa (cf. Texto-base nn. 34.44).

Ao mesmo tempo, é preciso diante da realidade global possuir um agir local, ou seja, ações concretas que cada pessoa pode realizar, tendo em vista colaborar nessa empreitada pela defesa e preservação do meio ambiente: o uso de bolsas e sacolas de algodão para carregar compras, diminuir a temperatura de geladeiras, ar condicionados e estufas no inverno; economia no uso da energia elétrica; para conservar os alimentos, use vidro e não alumínio ou plástico; ao escovar os dentes, não deixar a torneira aberta, evitando o desperdício de 30 litros de água etc... (cf. Propostas para se diminuir o consumo pessoal, Texto-base n. 207).

As palavras do Papa Bento XVI na sua mensagem para a abertura da Campanha da Fraternidade 2011 são iluminadoras: “O primeiro passo para uma reta relação com o mundo que nos circunda é justamente o reconhecimento, da parte do homem, da sua condição de criatura: o homem não é Deus, mas Sua imagem; por isso, ele deve procurar tornar-se mais sensível à presença de Deus naquilo que está ao seu redor: em todas as criaturas e, especialmente, na pessoa humana, há uma certa epifania de Deus. “Quem sabe reconhecer no cosmos os reflexos do rosto invisível do Criador, é levado a ter maior amor pelas criaturas” (Bento XVI, homilia na solenidade da Santíssima Mãe de Deus, 1/1/2010).

O homem só será capaz de respeitar as criaturas na medida em que tiver no seu espírito um sentido pleno da vida; caso contrário, será levado a desprezar-se a si mesmo e aquilo que o circunda, a não ter respeito pelo ambiente em que vive, pela criação. Por isso, a primeira ecologia a ser defendida é a “ecologia humana” (cf. Bento XVI, Encíclica Caritas in veritate, 51), ou seja, sem uma clara defesa da vida humana, desde sua concepção até a morte natural; sem uma defesa da família baseada no matrimônio entre um homem e uma mulher; sem uma verdadeira defesa daqueles que são excluídos e marginalizados pela sociedade, sem esquecer, nesse contexto, daqueles que perdem tudo, vítimas de desastres naturais, nunca se poderá falar de uma autêntica defesa do meio ambiente.

“Recordando que o dever de cuidar do meio ambiente é um imperativo que nasce da consciência de que Deus confia Sua criação ao homem não para que este exerça sobre ela um domínio arbitrário, mas que a conserve e cuide como um filho cuida da herança de seu pai, e uma grande herança que Deus confiou aos brasileiros, de bom grado envio-lhes uma propiciadora bênção apostólica.” (BENTO XVI).

Rezemos e tomemos consciência do que dizemos a Deus: “Pecadores que somos, não respeitamos a vossa obra, e o que era para ser garantia da vida está se tornando ameaça. A beleza está sendo mudada em devastação, e a morte mostra a sua presença no nosso planeta. Que nesta quaresma, nos convertamos e vejamos que a criação geme em dores de parto, para que possa renascer segundo o vosso plano de amor, por meio da nossa mudança de mentalidade e de atitudes.” (Oração da CF-2011).

Dom Milton Kenan Junior
Bispo Auxiliar de São Paulo
Vigário Episcopal para a Região Brasilândia

sexta-feira, 11 de março de 2011

Dicionário Popular do Aquecimento Global

A Pascom Brasilândia publica o “Dicionário Popular do Aquecimento Global”, de Roberto Malvezzi (Gogó), integrante da equipe Terra, Água e Meio Ambiente do CELAM. O material é uma boa fonte de consulta para grupos que discutem a Campanha da Fraternidade deste ano.

Roberto Malvezzi (Gogó)

CF 2011 - A Terra geme em dores de parto.

1) Aquecimento global: elevação da temperatura média da Terra. Antes da Era Industrial a temperatura média era de 14,5ºC e hoje é de aproximadamente 15,0ºC.

2) Mudança climática: toda alteração na temperatura da Terra, seja para menos, seja para mais. A Terra já conheceu períodos mais quentes e eras glaciais. A diferença que muitos cientistas fazem entre um e outro é que o aquecimento é considerado produto da ação humana, enquanto as mudanças climáticas são processos naturais.

3) Efeito estufa: fenômeno natural de retenção de calor do sol produzido por gases que fazem parte da atmosfera da Terra. É o efeito estufa que gera a temperatura média atual da Terra e permite a existência da vida nesse planeta. Mas, essa temperatura média depende do equilíbrio entre os gases que compõem sua atmosfera.

4) Gases de efeito estufa: os gases do efeito estufa (GEE) ou gases estufa são substâncias gasosas que absorvem parte da radiação infra-vermelha, emitida principalmente pela superfície terrestre, e dificultam seu escape para o espaço. São eles basicamente: dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), Perfluorcarbonetos (PFC's ) e também o vapor de água.

5) Causa do aquecimento global: injeção desses gases na atmosfera a mais do que já existe. Normalmente, essas emissões derivam da queima e derrubada de florestas, queima de combustíveis fósseis, animais, agricultura etc. Para se ter uma idéia, a atmosfera de Vênus, formada por CO2 em 95%, faz com que a temperatura daquele planeta seja próxima de 484ºC. A presença de CO2 na atmosfera da Terra, não passa de 0,03%.

6) PPM: parte por milhão. Por exemplo, a concentração de CO2 na atmosfera da Terra está em 391 PPM. Isso significa que, de cada milhão de partículas de outros gases, 391 são de CO2.

7) Conseqüências do aquecimento global: a elevação da temperatura média da Terra provoca efeitos como: derretimento dos glaciais, elevação dos oceanos, aumento de água na atmosfera, com conseqüente aumento na pluviosidade. Com isso aumentam os "efeitos extremos" como furacões, nevascas, tempestades que acabam causando enchentes, desmoronamentos, deslizamentos, inundações, prejuízos econômicos, doenças e mortes. Outro efeito extremo pode ser as secas e estiagens prolongadas.

8) IPCC: Intergovernmental Panel on Climate Change ou Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, estabelecido em 1988 pela Organização Meterológica Mundial e PNUMA, encarregado de estudar as mudanças climáticas em curso.

9) REDD: redução de emissões por desmatamento e degradação. É um mecanismo que prevê atacar as causas do aquecimento global reduzindo os desmatamentos e a degradação ambiental em geral.

10) Crédito carbono: mecanismo econômico que possibilita um poluidor comprar em outro lugar, inclusive em outro país, estoques de carbono para compensar a emissão que ele faz em seu lugar de origem.

11) Mitigação e adaptação: mecanismos que prevêem atacar a causa do aquecimento global e propor adaptações a situações que já não tem mais retorno. Um exemplo de mitigação é a tentativa de diminuir o desmatamento, como na Amazônia. Um exemplo de adaptação é começar a remover as populações que moram em área de risco.

12) COP: Conferência das Partes. São cúpulas mundiais que reúnem países para estabelecer mecanismos de controle do aquecimento global. Já aconteceram 16 COP. Até agora têm fracassado.

13) Para muitos cientistas, como James Lovelock, ou países como a Bolívia, ou para movimentos como a Via Campesina, esses mecanismos pouco adiantam. Teríamos que mudar efetivamente o padrão civilizatório, principalmente a matriz energética do planeta.

O fato concreto é que o aumento dos gases de efeito estufa continua aumentando. Se continuarmos com esse nível de emissão em 2050 atingiremos 500 PPM e em 2090 atingiremos 760 PPM. Dessa forma, a temperatura média da Terra poderá elevar-se até 7ºC a mais. Portanto, um inferno.

* Roberto Malvezzi (Gogó) é membro da Equipe Terra, Água e Meio Ambiente do CELAM.